As Maurícias não são um paraíso mas, no mínimo, merece ser estudada a forma como o povo e os seus governantes usaram a independência para melhorar, de facto, o seu nível de vida. E deve ser visitada porque além de ser um bom sítio para passar férias é um caso de relativo sucesso social e político.
O povo é uma mistura antiga de originários da India, de África, da Europa, da China, de Madagascar e de outras proveniências adjacentes, de que resulta uma mestiçagem colorida e harmoniosa surpreendente, pelo menos para nós, habituados pela cultura e pela vida a ver no “outro”, diferente, estranho, uma ameaça de que nos devemos afastar o mais possível.
É claro que a coexistência em qualquer parte do mundo, mesmo pacífica, não é um mar de rosas. Partilhar território e vidas com alguém que tenha hábitos distintos dos nossos é uma tarefa difícil que raramente se consegue apagando ou iludindo diferenças. Melhor mesmo é tentar superá-las. Aqui nas Maurícias existem certamente tensões quotidianas mas, aparentemente, esta gente consegue lidar muito bem com elas, mantendo níveis de tolerância e coexistência invejáveis, segundo os padrões africanos e mesmo os ocidentais.
A independência das Maurícias ocorreu num contexto descolonizador decorrente da 2ª Guerra Mundial. Sem banhos de sangue ou processos revolucionários violentos, como aconteceu por exemplo na Índia e em Madagascar, para falar de realidades próximas. Houve eleições em 1967 e a votação foi favorável aos independentistas por 55,6% contra 44,4%. Desde então as lideranças políticas dos maiores grupos étnicos e religiosos têm lutado pelo poder e governado o país alternadamente, grosso modo.
O povo é uma mistura antiga de originários da India, de África, da Europa, da China, de Madagascar e de outras proveniências adjacentes, de que resulta uma mestiçagem colorida e harmoniosa surpreendente, pelo menos para nós, habituados pela cultura e pela vida a ver no “outro”, diferente, estranho, uma ameaça de que nos devemos afastar o mais possível.
É claro que a coexistência em qualquer parte do mundo, mesmo pacífica, não é um mar de rosas. Partilhar território e vidas com alguém que tenha hábitos distintos dos nossos é uma tarefa difícil que raramente se consegue apagando ou iludindo diferenças. Melhor mesmo é tentar superá-las. Aqui nas Maurícias existem certamente tensões quotidianas mas, aparentemente, esta gente consegue lidar muito bem com elas, mantendo níveis de tolerância e coexistência invejáveis, segundo os padrões africanos e mesmo os ocidentais.
A independência das Maurícias ocorreu num contexto descolonizador decorrente da 2ª Guerra Mundial. Sem banhos de sangue ou processos revolucionários violentos, como aconteceu por exemplo na Índia e em Madagascar, para falar de realidades próximas. Houve eleições em 1967 e a votação foi favorável aos independentistas por 55,6% contra 44,4%. Desde então as lideranças políticas dos maiores grupos étnicos e religiosos têm lutado pelo poder e governado o país alternadamente, grosso modo.
A independência dos países sujeitos ao colonialismo nem
sempre foi sinónimo de ganhos de soberania, económicos e sociais para a maioria
da população. Nas Maurícias a independência alcançada em 1967, não trouxe a
satisfação de todas as necessidades dos mais carenciados mas constituiu, sem
dúvida, um salto de gigante na melhoria das suas condições de vida.
A sensação de que existe aqui uma nação é confirmada nas
conversas com os nossos interlocutores. É uma nação fustigada pela história, certamente,
mas composta por um conjunto de pessoas fenotípica e religiosamente diferentes
que perseguem objectivos comuns, apostados em viver juntos e a construir uma
pátria de que se orgulhem os seus filhos.
A questão identitária parece estar resolvida. Os mauriciens sabem quem são, de onde
vieram e qual o seu papel na sociedade. Nas relações informais as várias etnias
comunicam entre si em “crioulo das Maurícias”, língua cujas raízes e vocábulos
são de origem francesa na sua quase totalidade. O inglês é a língua oficial do
governo mas o francês é, de longe, a língua mais usada e ouvida nos meios de
comunicação social e na rua. Aparentemente a meritocracia funciona e o facto de
não se sentirem marginalizados deve constitui uma espécie de “seguro” que os protege
dos radicalismos, infelizmente comuns em grande parte do mundo.
O crescimento económico tem sido notável e, mais importante,
actualmente é um dos países com maior IDH (índice de desenvolvimento humano) em
África; praticamente não têm desemprego e, apesar de o ordenado mínimo ser 200
euros por mês (pouco, para os nossos padrões), a paz social não parece em
causa. Talvez porque a escola e a assistência médica/hospitalar sejam gratuitas;
porque as crianças e os seniores maiores de 60 anos não paguem transportes.
Talvez. O cuidado com os mais frágeis, crianças e idosos, é por demais evidente
e foi reforçado pelo actual governo de esquerda, eleito em finais de 2014, que
decidiu atribuir a todos os maiores de 60 anos uma subvenção equivalente ao
ordenado mínimo.
Os turistas são tratados com simpatia mas pagam pela maioria
dos bens comerciais, incluindo as refeições, um sumo ou qualquer outra coisa
que se venda nos mercados de rua, bastante mais do que pagam os mauriciens. Medida que me parece justa,
para além de revelar um enorme pragmatismo!
É claro que nem tudo é assim perfeito como pode transparecer
do teor deste escrito. Por exemplo, o actual governo cuja divisa eleitoral era
“Governar para o povo com o povo”, segundo um dos meus interlocutores já deixou
cair essa promessa e passou a governar para os seus... Espero que seja apenas
um tropeção e, já agora, que não retire o sorriso nem o ar de felicidade desta
gente.