vidasimples pensamentoselevados

sexta-feira, 18 de março de 2016

AS MAURÍCIAS


As Maurícias não são um paraíso mas, no mínimo, merece ser estudada a forma como o povo e os seus governantes usaram a independência para melhorar, de facto, o seu nível de vida. E deve ser visitada porque além de ser um bom sítio para passar férias é um caso de relativo sucesso social e político.
O povo é uma mistura antiga de originários da India, de África, da Europa, da China, de Madagascar e de outras proveniências adjacentes, de que resulta uma mestiçagem colorida e harmoniosa surpreendente, pelo menos para nós, habituados pela cultura e pela vida a ver no “outro”, diferente, estranho, uma ameaça de que nos devemos afastar o mais possível.
É claro que a coexistência em qualquer parte do mundo, mesmo pacífica, não é um mar de rosas. Partilhar território e vidas com alguém que tenha hábitos distintos dos nossos é uma tarefa difícil que raramente se consegue apagando ou iludindo diferenças. Melhor mesmo é tentar superá-las. Aqui nas Maurícias existem certamente tensões quotidianas mas, aparentemente, esta gente consegue lidar muito bem com elas, mantendo níveis de tolerância e coexistência invejáveis, segundo os padrões africanos e mesmo os ocidentais.
A independência das Maurícias ocorreu num contexto descolonizador decorrente da 2ª Guerra Mundial. Sem banhos de sangue ou processos revolucionários violentos, como aconteceu por exemplo na Índia e em Madagascar, para falar de realidades próximas. Houve eleições em 1967 e a votação foi favorável aos independentistas por 55,6% contra 44,4%. Desde então as lideranças políticas dos maiores grupos étnicos e religiosos têm lutado pelo poder e governado o país alternadamente, grosso modo
.

A independência dos países sujeitos ao colonialismo nem sempre foi sinónimo de ganhos de soberania, económicos e sociais para a maioria da população. Nas Maurícias a independência alcançada em 1967, não trouxe a satisfação de todas as necessidades dos mais carenciados mas constituiu, sem dúvida, um salto de gigante na melhoria das suas condições de vida.
A sensação de que existe aqui uma nação é confirmada nas conversas com os nossos interlocutores. É uma nação fustigada pela história, certamente, mas composta por um conjunto de pessoas fenotípica e religiosamente diferentes que perseguem objectivos comuns, apostados em viver juntos e a construir uma pátria de que se orgulhem os seus filhos.
A questão identitária parece estar resolvida. Os mauriciens sabem quem são, de onde vieram e qual o seu papel na sociedade. Nas relações informais as várias etnias comunicam entre si em “crioulo das Maurícias”, língua cujas raízes e vocábulos são de origem francesa na sua quase totalidade. O inglês é a língua oficial do governo mas o francês é, de longe, a língua mais usada e ouvida nos meios de comunicação social e na rua. Aparentemente a meritocracia funciona e o facto de não se sentirem marginalizados deve constitui uma espécie de “seguro” que os protege dos radicalismos, infelizmente comuns em grande parte do mundo.  
O crescimento económico tem sido notável e, mais importante, actualmente é um dos países com maior IDH (índice de desenvolvimento humano) em África; praticamente não têm desemprego e, apesar de o ordenado mínimo ser 200 euros por mês (pouco, para os nossos padrões), a paz social não parece em causa. Talvez porque a escola e a assistência médica/hospitalar sejam gratuitas; porque as crianças e os seniores maiores de 60 anos não paguem transportes. Talvez. O cuidado com os mais frágeis, crianças e idosos, é por demais evidente e foi reforçado pelo actual governo de esquerda, eleito em finais de 2014, que decidiu atribuir a todos os maiores de 60 anos uma subvenção equivalente ao ordenado mínimo.
Os turistas são tratados com simpatia mas pagam pela maioria dos bens comerciais, incluindo as refeições, um sumo ou qualquer outra coisa que se venda nos mercados de rua, bastante mais do que pagam os mauriciens. Medida que me parece justa, para além de revelar um enorme pragmatismo!

É claro que nem tudo é assim perfeito como pode transparecer do teor deste escrito. Por exemplo, o actual governo cuja divisa eleitoral era “Governar para o povo com o povo”, segundo um dos meus interlocutores já deixou cair essa promessa e passou a governar para os seus... Espero que seja apenas um tropeção e, já agora, que não retire o sorriso nem o ar de felicidade desta gente.       

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A FUTEBOLIZAÇÃO DA POLÍTICA


Deixei de ver, desde há muito, programas que falam de futebol. Gosto do jogo jogado, visto ao vivo ou na televisão, tanto quanto detesto a verborreia futeboleira vinda de comentadores, articulistas, treinadores e presidentes de clubes, todos eles com um estranho problema de visão, porque só conseguem “ver” o jogo com lentes clubistas que deixam ver apenas o que lhes interessa.
Com a política partidária está a acontecer a mesma coisa. Desde há um mês, evito ver debates, notícias e comentários sobre o actual momento porque a lógica da clubite instalou-se nos partidos e nos seus apaniguados nos meios de comunicação social. A informação é abafada pela contra-informação; os argumentos são contrariados pelas falácias; a manipulação impera e eu não tenho paciência para os aturar.

Não sendo isento, votei António Costa, tenho esperança que ele consiga governar o país bem melhor do que fizeram estes ladrões (de parte da minha reforma…) que o antecederam. Quanto a estes e aos seus apoiantes, se já esgotaram o stock de comprimidos para a azia, experimentem chá de espinheira santa, bolachas de água e sal e sumo de batata, em jejum. Dizem que faz bem.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

NOJO

Quando, em Fevereiro de 2013, o Estado pela mão do governo de Passos e Portas roubou-me mais de um quinto da pensão de reforma em nome da “austeridade necessária” reagi chamando-lhes os nomes que mereciam. Trabalhei por conta d´outrem durante 41 anos, cumpri a minha parte do contrato estabelecido e escrito pelo Estado e esse roubo provocou em mim uma ruptura irremediável com o poder político.  Escrevi então: “Hoje, quebrei o compromisso de cidadania institucional que mantive com o Estado durante toda uma vida. A partir de agora sinto-me livre de qualquer obrigação para com os dirigentes/malfeitores/vigaristas do meu país. Para além do óbvio direito que pretendo exercer de lhes chamar ladrões, bandidos, mafiosos e outras coisas que me ocorram na altura que os encontre, espero ter engenho para recorrer aos meios que ache adequados para os punir.”
Hoje, depois de saber que os juízes do tribunal constitucional foram coniventes com os ex-titulares de cargos públicos que depois de trabalharem apenas 12 anos têm direito a privilégios que os trabalhadores comuns deste país não têm, nem ao fim de 40 anos de trabalho, voltou-me o desejo de chamar bandidos e mafiosos aos deputados que solicitaram esse privilégio vergonhoso e iníquo e aos juízes do tribunal constitucional (também abrangidos) que votaram em causa própria.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016

Comecei bem o 2016. Também graças à RTP! Ontem, após o jantar/ceia em família e cumprido que foi o ritual dos beijos, abraços e desejos de um Ano Melhor, sentei-me frente à televisão e deparei na RTP 2 com o Amarcord de Fellini. Magnífico filme, visto e revisto com gosto. Hoje ao acordar, levei um banho de boa música e boa disposição do maestro Mariss Jansons que dirigiu a Filarmónica de Viena no tradicional concerto de Ano Novo transmitido pela RTP 1. Muito bom!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

AMESTERDÃO E AS PESSOAS




De acordo com dados de 2014, Amesterdão tem cerca de 813.000 habitantes, um terço dos quais pertencem a minorias étnicas provenientes de 180 países. Essas pessoas começaram a chegar à cidade há seculos, em circunstâncias variadas, em busca de liberdade e de uma vida melhor. É difícil encontrar exemplo semelhante de tanta mistura de gentes e diversidade cultural em qualquer outro lugar do mundo.
Das fontes consultadas em museus e folhetos informativos constam estes números: há 30000 estudantes, 7000 prostitutas, e 3600 polícias.

Das prostitutas já se sabia. A prostituição é legal, controlada, regulamentada, sujeita a pagamento de impostos. O “Red Light District” existe há tanto tempo que já faz parte da paisagem urbana. Há protestos em alguns campos mais conservadores da população mas a maioria aceita o facto como integrante do particular estilo de vida tolerante que caracteriza a cidade.

Quanto ao número de polícias, a existirem, ou andam muito bem disfarçados ou então devem estar atrás das câmaras de vigilância, porque na rua não se vêem! Se calhar é porque não há distúrbios ou cenas que habitualmente convocam a sua presença. Tudo calmo, pacífico, cada um na sua.


Amesterdão é obviamente uma das cidades mais modernas do mundo. Mas ao mesmo tempo é admirável a atmosfera de convivência, a forma como as pessoas socializam, porque é semelhante à das terras pequenas, amigáveis, calorosas e solidárias. A liberdade, a tolerância, tal como a simpatia, parecem coisas naturais. É verdade que fazem questão de se afirmar como amantes da cerveja, que o cheiro a erva paira no ar mas isso, provavelmente acrescenta-lhe cosmopolitismo. As pessoas, de um modo geral, são bonitas,  têm um ar saudável e parecem felizes.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

HOLANDA

Os actos terroristas do “13 de Novembro” em Paris tinham como objectivo principal, creio, amedrontar os europeus e condicioná-los nos modos de vida a que se habituaram; coisas simples como sair à rua, viajar, passear, divertir-se, fazer do tempo de cada um aquilo que a liberdade e o desejo foram ajudando a conquistar.

Aquando do miserável ataque, decidi de imediato combater esse medo que os seus autores queriam impor, mantendo a viagem programada para um mês depois com destino à Holanda. Fiz o que tinha a fazer e viajei com parte da família, sem medo.

Estamos em Amesterdão e, por acaso, o hotel fica num bairro maioritariamente habitado por muçulmanos. Por inerência da profissão contactei ao longo dos anos com muitas e variadas comunidades muçulmanas e era já minha convicção que ser muçulmano não deve ser um estigma. E no fundo, no fundo, sejamos cristãos, muçulmanos, judeus, ou pertencentes a outra qualquer religião, andamos todos ao mesmo... ou seja, procuramos ser felizes. Não vale a pena referir as excepções da existência em todas as religiões de loucos, terroristas e outros kamikazes que contrariam esta regra porque não passam disso mesmo, de excepções, e não existe vacina contra eles.


Hoje o nosso dia foi preenchido quase na totalidade com a visita à casa de Anne Frank e à Sinagoga Portuguesa, dois locais onde os efeitos da intolerância para com os “outros” é emocionalmente mostrada. Provavelmente não poderia ser de outra maneira. Não sei.

sábado, 12 de dezembro de 2015

"Amigos" Brasileiros

Lula da Silva já mereceu, em tempos, o meu respeito. Foi num tempo em que se opôs aos governos que subjugaram o seu país, condenando-o à fome e à miséria; um tempo em que lutou abnegadamente pelo poder até o alcançar em 2003, enchendo de esperança os milhões de brasileiros que ambicionavam legitimamente fugir à pobreza. Saiu em 2010 e é indubitável que nesse período de sete anos alguns milhões de brasileiros foram retirados da situação miserável em que viviam e o país alcançou uma importância política e económica notáveis. No entanto, o rasto de corrupção que vinha do passado não desapareceu, antes pelo contrário, e nele estão embrulhados os “impolutos” membros do seu Partido dos Trabalhadores, em quem o povo brasileiro, e não só, depositou tanta esperança. 
Já em 2007, na revista Sábado, o então presidente Lula deixou escapar uma acusação eivada de enorme leviandade intelectual surpreendente. Pelo menos para mim. A propósito da descoberta de mais de 1000 escravos numa plantação de cana-de-açúcar, na Amazónia, o presidente apontava como causa do crime a “herança histórica” deixada por Portugal. Isto é, o Brasil é um país independente desde 1822, a escravatura foi abolida algumas dezenas de anos mais tarde e agora, no seculo XXI e após a passagem pedo poder de milhares de governantes brasileiros, ao que parece voltou. Segundo um estudo efectuado na Universidade de São Paulo concluiu-se “…existirem 85.000 escravos no país”. E lia-se na revista, “São sobretudo homens entre os 18 e os 40 anos, pobres que contraem dívidas para pagar viagens e instrumentos de trabalho e que nunca chegam a receber salário”. Tudo culpa dos portugueses, claro!
Ontem, em Madrid, Lula da Silva foi mais longe na desculpabilização dos seus comparsas e apontou o dedo à colonização portuguesa pelos atrasos constatados na educação do seu povo. Se em 2007 tinha sido leviano, agora foi demagogo e desonesto, ao afirmar que “…a primeira universidade brasileira apenas foi criada em 1922, “esquecendo-se” de mencionar que os alicerces do Ensino Superior brasileiro foram construídos muito antes, no final de século XVII e XVIII, com a criação em 1792, da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, instituição de ensino superior precursora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e depois, em 1808, a Faculdade de Medicina da Baía, na sequência da chegada ao Brasil da Coroa portuguesa.
O que mais me irrita nestes “amigos” de Portugal, Lulas da Silva, Caetanos Veloso, Maitês Proença e quejandos, que de vez em quando largam aqui os seus dislates, é a conversa “mole”, cínica e sorridente, tipo “Eu gosto muito de Portugal, meu avô era português… aqui me sinto em casa. Sei que isto não agrada aos portugueses, mas…”
Perdido que está o respeito, ilustres irmãos brasileiros infantilóides com manifesta dificuldade em crescer e assumir responsabilidades, recebam o meu desprezo, e já agora façam o favor de seguir o caminho preconizado pelas claques do Benfica e do Sporting quando recebem o Pinto da Costa… 


segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Ti Zé Faca


Morreu o ti Zé “Faca”! Recebi agora a notícia.
  
O ti Zé não foi um treinador. Ele foi “O” treinador. Joguei 17 anos, sempre ao serviço do U. D. Vilafranquense, por onde passaram treinadores renomados. O ti Zé foi especial porque além de ser um homem intuitivo e inteligente era, sobretudo, um aplicado formador de homens. E um amigo, apesar da diferença de idades. Para ele o futebol era um simples jogo que devia ser encarado com alegria e devia servir antes de tudo como escola de vida, onde deveríamos aprender a ganhar e a perder. Ensinou-me a mim, e a muitas centenas de rapazes no campo do Cevadeiro, os pequenos segredos do futebol e, mais importante ainda, ajudou-nos a crescer.

Nesta equipa do Águia, o ti Zé está à direita na fila de baixo, com uma bandana na cabeça.   

Receba um abraço de profundo agradecimento.   

Que descanse em paz!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

COMEMORAR

Fez ontem 45 anos que eu e mais umas largas dezenas de rapazes e raparigas da minha idade… entrámos para a TAP. Divididos por sete turmas… (foi uma altura de grande expansão da companhia) aí fomos aprendendo a ser comissários e assistentes de bordo e criando laços que se mantiveram mais ou menos apertados ao longo do tempo.
No passado, temos comemorado este dia em algumas datas redondas. Por motivos vários e dolorosos o número de presenças tem vindo a diminuir. Ontem, juntámo-nos uma vez mais e foi muito bom. Como sempre! Estar junto dos nossos é uma dádiva da vida que certamente merecemos.
O menu foi bom mas isso foi apenas um pormenor, tal como as conversas, as histórias e os risos. Maior foi o prazer de estar ali.  
Nas costas do menu estava este poema que aqui partilho, da autoria de um de nós:

“VOAR FOI ESTAR SEMPRE ONDE O TEMPO NÃO CONTA
ONDE O VENTO NÃO PARA                                                                                                                     
ONDE O SOL SE ESCONDE NAS LUAS DA VIDA

VOAR É NUNCA ESQUECER OS QUE ESTÃO POR PERTO
OS QUE LEVAMOS NA ALMA QUANDO FUGIMOS NO ESPAÇO
SONHANDO MADRUGADAS DE REGRESSOS

VOAR É SONHAR DE AMOR E SAUDADE
É ENTREGAR A VIDA A QUEM SABE ESPERAR
SEM SE ESQUECER DE NÓS.
VOAR, COMPANHEIROS É CHORAR E RIR
PORQUE SOBRA SEMPRE TEMPO QUANDO ESTAMOS LONGE
E É CURTO O QUE PASSAMOS NOS NINHOS TERNURENTOS DOS NOSSOS AMORES

 VOAR É MESMO ASSIM SER SIMPLES E ESPERAR
PORQUE QUANDO PARARMOS DE CAVALGAR O ESPAÇO
NUNCA PARARÁ O PENSAMENTO,
NUNCA ESQUECEREMOS OS MOMENTOS
E OS AMIGOS QUE MÃO NA MÃO FORAM CONNOSCO CHEGANDO









Ouve também um vídeo projetado durante o jantar e depois oferecido a cada um de nós, feito a partir de fotografias de encontros anteriores. O vídeo não o partilho porque para mim, é uma daquelas coisas íntimas que só interessam a quem as viveu.  

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

DECLARAÇÃO DE VOTO

Faço parte do povo, deste povo, não quero mudar, nem de povo nem de país. Votei contra os manhosos, vigaristas e ladrões do anterior governo. Perdi.


Os resultados eleitorais são o que são! Ficamos desapontados quando não refletem a nossa vontade e tendemos a culpar a “estupidez” do povo, por não ser clarividente como nós. Este estado de alma pode confortar o desgosto mas revela empáfia.

A dificuldade que os “cultos” demonstram em aceitar a democracia quando ela os contraria, além de estulta é risível. Mas, para falar verdade, nem me apetece rir...

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

PERPLEXIDADES

Apesar de saber da enorme capacidade manipuladora dos políticos e da tentativa de distrair as pessoas, lançando-lhes areia para os olhos ou desviando o foco da atenção do que não lhes interessa.

Apesar de perceber que os actuais governantes, candidatos à reeleição, fogem a explicar a razão das medidas gravosas que arruinaram milhares de empresas, famílias e os legítimos projectos de vida de milhares de emigrantes forçados a abandonar o país.

Apesar de perceber que o seu programa de futuro é o mesmo que aplicaram até aqui e a sua estratégia é desculparem-se com o omnipresente Sócrates, sem terem coragem de assumir que foi por opção ideológica que empobreceram o país.

Apesar de tudo isto e de relativizar o que é dito nestas circunstâncias, ainda consigo ficar chocado com a ousadia ululante de Paulo Portas, ao classificar os opositores candidatos com epítetos ofensivos e vazios. Se tivesse um pingo de vergonha e dignidade política, ficaria irrevogavelmente calado. Até porque não são os programas da oposição que vão a julgamento no dia 4 de Outubro.

Quanto ao “extraordinário” Passos Coelho, apesar de tudo fazer para que nos esqueçamos do passado, do seu tecnofórmico e do nosso, de resistência aos males que nos causou o seu governo, estou convencido que nem as gloriosas sondagens vão impedir que seja derrotado.

É esse o meu desejo. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Salvé 15 de Setembro

O dia 15 de Setembro de há três anos, foi o dia em que os portugueses manifestaram nas ruas a sua indignação contra as malfeitorias deste governo e gritaram bem alto a vontade de mudar.

Eu fui, com muito gosto, a um casamento e não pude partilhar com eles publicamente essa indignação.
Hoje, a acreditar nas sondagens, muitos deles já se esqueceram, desindignaram-se… e irão votar nos mesmos.


Eu não me esqueci, recordarei esse dia e os outros que se seguiram… e tudo farei para que os mentirosos e ladrões que nos governam sejam punidos.  

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

DECLARAÇÃO DE (NÃO) VOTO


Não voto na PAF, de Passos e Portas
Porque:  
Não gosto de ser enganado
Nem que me tomem por parvo e,
Sobretudo
Porque tenho memória.

P.S. – Vou votar. Ainda não sei é em quem!  


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Sentimentalões

O Grande Prémio do World Press Cartoon (WPC) deste ano foi ganho por André Carrilho com um desenho publicado em 2014, onde é evidente a dualidade de critérios, nossos, ocidentais, que atribuem importância às coisas e às pessoas em função dos sinais fenotípicos, em particular, a cor da pele. 
No desenho estão representados doentes vítimas do Ébola – dezenas de negros e apenas um branco – e a comunicação social foca a atenção, claro, no branco.
Agora surgiu outra imagem que vai, certamente, ser premiada, dar origem a reportagens e filmes. 
E, talvez seja sonhar alto, a medidas para acabar ou minorar a tragédia. Após terem morrido milhares de indivíduos de pele negra ou escura, afogados no Mediterrâneo perante a nossa quase indiferença (apenas algum incómodo…), morreu uma criança síria, mais uma. Não! Esta é diferente. Porque a imagem que nos foi mostrada e repetida mil vezes por tudo o que é meio de comunicação é chocante pela circunstância de a criança ter a pele branca, como nós. 
Somos uns sentimentalões. 
E racistas.   


sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ser grande é…


Ter carácter, ter honrosa história e saber defendê-la nos bons e nos maus momentos.
O Belenenses tem uma história de que se pode orgulhar. Só os ignorantes podem duvidar deste facto. Os seus representantes – Direcção, SAD do futebol e os atletas de todas as modalidades – têm que ter carácter e defender as cores azuis em qualquer circunstância. Os futebolistas ontem, na Suécia, fizeram-no com enorme brio e talento. Estão de parabéns.

Para a maioria dos portugueses o facto de uma equipa portuguesa – que não o Benfica, Sporting ou Porto – ter passado à eliminatória seguinte da Taça Europa, deve ter passado despercebido, tal a indiferença e o esquecimento despudorado com que as televisões trataram o caso. Em todos os canais a essa hora decorriam programas com os paineleiros do costume que tratavam de esmiuçar os entrefolhos das transferências anunciadas, feitas, ou a fazer pelos três mencionados clubes. Além, claro, de nos “encantarem” a espaços com fotografias sensuais de “la Carbonero” que afinal, até já gosta da cidade do Porto… Falar de uma equipa portuguesa que acabara de eliminar o actual 1º classificado do campeonato sueco, nem pensar! Referir o “acaso” de essa equipa ser constituída só por jogadores portugueses, não é notícia…

Ser grande é ser inteligente e arguto, sabendo lidar com as situações em cada momento. Foi isso que aconteceu com a TAP. Ontem, quando a comitiva belenense chegou ao aeroporto sueco para embarcar para Lisboa, foi recebida com explicita felicitação pelo feito alcançado. Nos placards do aeroporto o voo TP 9121 para Lisboa acrescentavam a mensagem “Parabéns Belenenses”.


Por isso, saudemos a grandeza do Belenenses e da TAP. Que vivam e continuem grandes por muitos anos! 

domingo, 19 de julho de 2015

A propósito da Grécia…


Falemos de Obama. Não da pressão que exerce sobre os actores políticos que dependem dele, nos governos ou no FMI. Também não sobre os discursos públicos onde expressa a sua opinião (de cuja bondade se pode sempre desconfiar…) acerca dos problemas causados pela eventual saída da Grécia da esfera do euro. Falemos antes de Obama e do seu papel no acordo alcançado há dias com o Irão. 

Como se sabe, na política os falcões são aqueles voluntariosos que resolvem os problemas à força, sem negociar com o inimigo… e com profundo desprezo pelas pombas, isto é, os políticos “fracos”, aqueles que negoceiam até com o diabo se tal for necessário para alcançar um acordo. Obama é, aos olhos dos falcões americanos, israelitas e outros uma pomba receosa.  Mas alcançou um acordo que pode ser um grande contributo para a resolução dos conflitos centrados no médio oriente e, por via da acção de muitos falcões ocidentais e dos muitos radicais islâmicos surgidos no rescaldo dessas ofensivas, disseminados um pouco por todo o mundo com os efeitos desastrosos que se tem visto.

Na Grécia também houve acordo. Chamem-lhe o que quiserem. Eu continuo sem perceber o suficiente para me permitir classificar de outra maneira o processo negocial entre os “bons” e os “maus” actores deste dramalhão, cheio de suspense, avanços e recuos inesperados, acusações, chantagens e outras cenas menos dignas. Parece-me, no entanto que, também aqui, ganharam as pombas: o “cobarde” Tsipras aguentou o barco enquanto o intrépido e “valente” Varoufakis abandonou-o.  O “fraco” Tsipras e os que com ele ficaram no governo, tiveram que engolir sapos e humilhações sem nome mas perante as circunstâncias e a ausência de melhor alternativa, aguentaram o barco.


Não sei o que vai acontecer no futuro. E, tal como escrevi a 28 de Junho: “O facto de suspeitar que nesta incerteza sou acompanhado pela maior parte das pessoas que no mundo ainda se preocupam com este tipo de coisas…”, não afasta de mim a ideia de que o mundo continua perigoso. Suspeito, porém, que os problemas serão resolvidos pelos “cobardes” pombas enquanto os “valentes” falcões vão continuar a botar discursos heroicos e empolgantes dos dois lados da barricada. Depois basam! Uns de mota e outros em cadeira de rodas…      

domingo, 28 de junho de 2015

O MUNDO ESTÁ PERIGOSO

Esta é a sensação que me acompanha desde que os “rebentos” dos mais radicais dos radicais islâmicos atacaram locais de trabalho em França, de lazer na Tunísia e de culto no Kuwait, sem contar com as outras atrocidades levadas a cabo esta semana por estes filhos desnaturados de uma causa qualquer que ela seja, na Nigéria, na Síria, no Iraque, no Burundi.
Não é difícil ir à procura dos responsáveis ocidentais que armaram, desarmaram, derrubaram e apoiaram os amigos e inimigos de cada ocasião. Pedir-lhes responsabilidades já é outra conversa. A geoestratégia comanda a política dos interesses das grandes potências, com os USA à cabeça, e o resto é treta de embalar consciências aqui no lado “civilizado” do mundo. Mas de uma coisa não se livram: ficarão na história como os que armados em polícias do mundo abriram a caixa de Pandora donde desataram a sair “rebentos” sem controlo.
Não faço ideia de como se resolve o problema da Grécia. O facto de suspeitar que nesta incerteza sou acompanhado pela maior parte das pessoas que no mundo ainda se preocupam com este tipo de coisas, não me descansa sobremaneira. Os proeminentes líderes europeus trocam acusações de chantagistas, amadores, gastadores compulsivos, mentirosos, agiotas e outros mimos trocados em jogos infantis, tipo “palavra – puxa – palavra,” “estica –  a – corda”, “pisca – o – olho”, e outros jogos “hard core” para adultos, jogados nos bastidores.    
Para ontem, estava anunciado o encontro decisivo, o último dos últimos entre ministros e outros representantes dos donos do dinheiro. Varoufakis abandonou o jogo a meio mas não levou a bola, porque a bola é da Alemanha. Até ontem, no futebol acontecia o mesmo. Dizia-se até, explicando-o, “É um jogo com uma bola, duas balizas, onze contra onze… e no fim ganha a Alemanha”. Ontem foram derrotados por Portugal, 5 a 0. Mas tenho a impressão que nos jogos financeiros o resultado vai ser o mesmo do futebol de antigamente: no fim, ganha a Alemanha.

Só desejo que essa vitória não torne o mundo ainda mais perigoso.        

sexta-feira, 24 de abril de 2015

UNIÃO DESPORTIVA VILAFRANQUENSE É CAMPEÃO!


Ontem à noite fui ao hóquei. O União jogava com o Clube TAP e se ganhasse sagrava-se Campeão Regional de Seniores. Ganhámos 5-2.

Houve um tempo, por volta dos anos 60, em que o Hóquei em Patins era uma modalidade querida da gente da minha terra. Nessa altura, em vez do “Pavilhão” havia o velho “Ringue de Patinagem”, rudimentar, descoberto, com piso em cimento, bancadas de madeira, mas com vista e cheiro a Tejo e, principalmente, muito calor humano e o entusiasmo de centenas de pessoas que vibravam com os feitos da equipa, cantavam as vitórias,” carpiam as derrotas culpando os árbitros que, quantas vezes, eram avisados em alto e bom som… “Gatuno, vais p’ó lodo…” Nunca foi nenhum!

Ontem, sentado nas bancadas frias do Pavilhão, construído onde era o Ringue, revi em pensamento esse filme, antigo. Não sou dado a nostalgias. Cada coisa tem o seu tempo e cada tempo o seu modo. Antes, na minha infância e adolescência, a Televisão era um luxo que só entrava em poucas casas. À minha chegou tarde. As ruas, o “campo da feira” (o nosso estádio…), o largo da Câmara, o Jardim à beira rio, eram espaços para os jogos, os divertimentos, os encontros. Quase só íamos a casa para comer e dormir.



O Pavilhão, ontem, tinha muita gente. Pela importância do jogo e pela presença em massa da claque do Clube, os “Piranhas do Tejo”. Foram eles a puxar pela equipa, à força de cânticos acompanhados a tambor, adereços luminosos e fumos. Os outros espectadores, eu incluído, batíamos palmas a uma ou outra jogada e, sim, aplaudimos de pé os nossos golos. No fim houve festa. Curta. Em casa é que se está bem…                                                                                                                                                                                                                            

sábado, 11 de abril de 2015

NÓS E OS ANIMAIS

Hoje fomos passear a Lisboa. Almoçámos no Mercado da Ribeira e depois fomos desmoer o almoço pela beira do rio, Praça do Comércio e arredores. À volta da estátua do D. José estava um grupo de pessoas da associação “Animal” em modo de manifestação. Parámos, observámos os cartazes e ouvimos um “raper” a cantar (mal) e seguimos caminho. Subimos ao Arco da Rua Augusta, tirámos fotografias e foi aí que começámos a ouvir os sons da “Manif”. As duas primeiras palavras de ordem foram suficientes para perceber o rigor e a demagogia dos promotores e também para me irritar: “Tourada e Escravatura, a mesma Cultura” e “Os animais são nossos irmãos”, são frases que revelam os equívocos e o vazio de ideias de quem as diz.

Defender os animais assim, com base em pressupostos errados, não é contribuir para colocar o tema no plano em que deve ser abordado. As pessoas têm deveres para com os animais. Mas os animais não são pessoas e ainda menos são nossos irmãos. A carência de afectos não pode justificar tudo.     

                                                                                                                                                       



sexta-feira, 10 de abril de 2015

Nós e os chineses - 2

A China é uma potência com peso crescente na economia global. Este é um facto incontornável. A sua entrada em África baralhou as contas aos países ocidentais habituados a colonizar e a neocolonizar à vontade e sem prestar contas. Duvido que a China seja mais “amiga” dos povos africanos do que os antigos “patrões” ocidentais. No entanto, quero crer que a sua presença no terreno com condições altamente concorrenciais obriga a melhorar objectivamente os termos em que a ajuda ao desenvolvimento desses países é prestada.

Esta entrada acontece às claras, perante a inércia ou impotência dos países “instalados” e alguma surpresa das opiniões públicas, formatadas numa história baseada na pressuposta superioridade cultural do Ocidente que, sobretudo a partir do iluminismo, autonomeou-se o farol da humanidade a quem compete derramar luz sobre as trevas onde vivem os africanos, esses bárbaros…

Ora, aparecerem agora os chineses, esses outros bárbaros… a meterem-se no meio desta gloriosa porém incompleta cruzada civilizacional, não faz nenhum sentido. Há que denunciá-los! Porquê? Na falta de factos concretos ou argumentos usam-se mitos: o “perigo amarelo” é um deles.

Até prova em contrário, o “perigo amarelo” é-o, sim, mas para o monopólio dos estados e corporações “instalados” há séculos no continente e que agora enfrentam a concorrência chinesa. Ao considerar a China uma “ameaça”, o Ocidente pode estar a camuflar não o medo real mas apenas a arrogância e o paternalismo de quem se sente dono de pessoas e bens.

Mas é bom que não adormeçam.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

NÓS E OS CHINESES


Tempos houve em que a China era vermelha. Os maoistas portugueses, eu incluído, admirávamos os ditos e os feitos de um povo antigo que soubera libertar-se de opressores orientais e ocidentais, e construir um país à sua medida. Depois, os anos foram passando, as nossas utopias também, os ditos deixaram de fazer sentido, nem para mim nem para os chineses, pelos vistos, porque em vez do vermelho passaram a preferir a cor do pragmatismo, isto é: cor nenhuma a não ser a do dinheiro, e a fazer o que faz qualquer capitalista sem pudor ou açaime.
Feita esta declaração de interesses… devo acrescentar que o posterior contacto com eles, fez-me perceber a enorme distância cultural (em termos de hábitos) que nos separa e enterrou qualquer resquício de simpatia sobrevivente.
Muitos anos e toneladas de notícias depois sobre a anunciada conquista do ocidente pelo “perigo amarelo”, deparo-me com uma dúvida: qual é a diferença entre os capitalistas chineses e os americanos, ingleses, alemães ou outros que andam a comprar o que está à venda? Será que os chineses são piores?  
Bom, pelos vistos os actuais e futuros governantes do meu país não partilham esse receio. Os actuais acabam de pedir a adesão ao banco que a China fundou, o Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas (AIIB). E aqui há um mês, o nosso futuro Primeiro, António Costa, já elogiara os amigos chineses!

Posso andar distraído, mas não li ou ouvi notícias, comentários ou explicações na nossa imprensa acerca desta atração nacional pelo “perigo amarelo”. Li apenas que os EUA não gostaram nada da ideia do banco que, ao que parece, vai fazer concorrência séria ao Banco mundial e às outras instituições financeiras controladas pelos americanos. Mas isso, meus caros, são outras contas.

segunda-feira, 9 de março de 2015

OS POLÍTICOS NÃO SÃO TODOS IGUAIS

“Os políticos não são todos iguais…” Quem o disse foi Passos Coelho, tentando marcar a diferença entre ele e o José Sócrates! Ora, apesar de ter razão no que diz, o nosso primeiro não é, como parece claro para toda a gente excepto para o presidente cavaco, um exemplo de político sério. É um “distraído” quanto às suas obrigações fiscais, é um mentiroso convicto, é forte e assertivo com os fracos e é um merdas quando enfrenta os mais fortes. 
Ontem, li uma entrevista no Expresso a um político exemplar, esse sim, sério, a léguas de distância da indigência moral onde chafurdam estes poli






tiqueiros nacionais. Refiro-me a José Mugica, ex-presidente do Uruguai.
O Presidente Mugica mostrou ao longo do seu mandato, qualidades humanas e politicas na condução do seu país que fizeram dele um exemplo do que deve ser um servidor público no sentido idealista e genuíno do termo. Em vez de as usar, prescindiu das mordomias do Estado, viveu na mesma e modesta casa onde antes vivia, doou 87% do seu salário de 12.000 dólares para a construção de casas para os mais desfavorecidos e, também por isso, é conhecido como o “Presidente mais honesto do mundo”.
Em Portugal acontece o mesmo, mas ao contrário! Circula aí na net uma lista de figurões da política que usaram a sua passagem pelo governo e adjacências para enriquecerem. A lista inclui as declarações de património e rendimentos apresentadas por esses artistas ao Tribunal Constitucional, desde 1995, ano em que a informação passou a estar disponível, e reconstitui o percurso do desmesurado crescimento dos seus rendimentos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

HIPÓCRITAS


Raif Badawi, o liberal árabe-saudita que foi condenado a uma sentença de 1000 chicotadas e 10 anos de prisão na sequência da criação de um blog onde teve a ousadia de abrir um debate de carácter político e social sobre o seu país, é a última prova da hipocrisia vigente entre os políticos mundiais deste lado do mundo. A Arábia Saudita, país que condenou publica e presencialmente os actos contra a liberdade de expressão no estrangeiro, no seu país aplica esta medida repressiva e assassina de qualquer arremedo de liberdade.
Os EUA, Grã- Bretanha e outros países ocidentais amigos e aliados do regime saudita, que com eles desfilaram na primeira fila da manifestação de Paris de repúdio aos ataques terroristas ao Charlie Hebdo, até à data não despoletaram protesto que se visse ou acção diplomática contra estes escroques. O termo é esse. Não há relativismo cultural que justifique outra abordagem desta questão. 

O António e o Brito, cartoonistas com quem mantenho relações de amizade diferentes, em proximidade e antiguidade, num programa de TV desta semana referiram-se a essa linha da frente diplomática como um mostruário de hipocrisia e oportunismo político. António citou Willen, um cartoonista de 73 anos, do Charlie Hebdo que provavelmente está vivo porque gosta de reuniões e por isso faltou àquela reunião onde os seus amigos foram assassinados, dizendo,"vomitamos sobre as pessoas que, de repente, garantem ser nossos amigos". O Brito em directo e em nome pessoal disse que cuspia naquela gente. Não querendo chegar a níveis tão escatológicos limito-me a manifestar o meu desprezo por tal gente que dirige o mundo com esta diplomacia a cheirar a merda.  

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O WRESTLING E O FUTEBOL

O wrestling é uma modalidade desportiva onde os resultados dos encontros/combates são decididos previamente conforme os interesses dos promotores do espectáculo que controlam os atletas. O espectáculo é bem encenado e de tal forma que na assistência, em directo ou via TV, ainda há gente que toma partido e apesar das peripécias grotescas que o caracterizam, acredita que aquilo é mesmo a sério. No futebol, por vezes, acontece a mesma coisa. As cenas não são risíveis como no wrestling mas a verdade desportiva é uma quimera.

Vem isto a propósito do jogo Benfica-Belenenses onde os dois melhores jogadores azuis Miguel Rosa e Deyverson não jogaram, estando aptos para o fazer. A nebulosa obscura e gaga onde dirigentes e treinador do Belenense inscreveram as putativas explicações são do mesmo calibre ético que a manipulação dos resultados no wrestling. A diferença está em que estes “combates” são performances artísticas onde a maioria dos espectadores/adeptos sabem ao que vão. No futebol, não. Os adeptos acreditam que o futebol, ainda que seja um negócio, é coisa séria. Não é. Está controlado por gente mafiosa que influencia e manipula resultados. Interessa é ganhar, a todo o custo, recorrendo a ingredientes como a fruta, o café com leite, os acordos verbais entre cavalheiros…    

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O DERBY


Ontem houve derby ribatejano na minha terra: União Vila Franquense contra o Alverca. Fui ver. Um derby é um derby! Quando eu jogava, já lá vão uns anos… os jogos com o Alverca eram bons de jogar, geravam adrenalina e tiravam o sono. Como não havia Facebook, as discussões antecipando o encontro eram feitas cara-a-cara, principalmente nas O.G.M.A. (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico), em Alverca, onde trabalhavam alguns jogadores e muitos adeptos de ambos os clubes.
O jogo era sempre muito disputado, dentro do campo e fora dele e, qualquer que fosse o resultado, tinha prolongamento durante a semana, com a discussão das jogadas e dos casos esmiuçados conforme o grau tendencioso e o arreganho dos oponentes. No jogo de ontem as bancadas estavam cheias como antigamente, o jogo foi rasgadinho como de costume e, tal como outrora, foi antecipado e também vai ter prolongamento, agora, nas redes sociais, com mais acinte mas sem a graça da discussão olhos nos olhos .
O que não havia no meu tempo eram as claques! A do União chama-se “Piranhas do Tejo”. Nome extraordinário. Os “Piranhas ocupam na bancada o lugar mais próximo do bar.  O apoio à equipa segue o padrão das congéneres, isto é, cânticos de incentivo aos nossos e provocações aos adversários. Lembro-me de uma delas, “Ninguém nasce em Alverca, ninguém nasce em Alverca, ninguém nasce em Alverca, olé ó”. Esta claque tem a particularidade de ser acompanhada por uma banda de músicos que tocam bem, afinados e com repertório adequado a cada situação. O ar é de festa! 
O meu clube ganhou 2-0 e comanda o campeonato.  
P.S. O meu outro clube, o Belenenses, também ganhou o derby “da linha”, com o Estoril, por 2 a 1. Foi um Domingo glorioso.    


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A FEIRA


A Feira anual que se realiza em Vila Franca, minha terra, é sempre uma ocasião para reencontrar amigos e conterrâneos que dela saíram, levados pelas andanças da vida. Não precisamos marcar encontro. O sítio do costume é a rua, ou as ruas, onde acontecem as “Esperas de Touros”. 
Ontem, assim foi. Na rua onde nasci, a 1º de Dezembro, lá foram aparecendo. Primeiro o Vítor, depois o João e o Leo, e pouco depois o Alfredo e o Cabral. Marcámos uma almoçarada para 5ª feira, onde vamos dar cabo da conversa e das saudades.
Mas este ano, o cenário onde decorre esta celebração da festa dos touros estava mais bonito: a tertúlia “de rua” do Pineta, frente à nova Biblioteca, ostentava altaneiramente a bandeira do Belenenses. Bem sei que em Vila Franca o Águia, um dos clubes que deu origem ao actual União, era filial do Belenenses e daí a existência de muitos adeptos azuis. Mas que foi uma satisfação enorme tirar esta fotografia, lá isso foi.   


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

POR ARRASTO VAMOS...

Os meios de comunicação publicam, sobretudo, más notícias. Os crimes, as desgraças, os desvios comportamentais dos outros alimentam o medo gerado pela percepção sentida de que a ordem pública está degradada e é perigoso sair à rua.
Os “meet” de agora são reedições dos “arrastões” de outrora. O alarme gerado por notícias que constroem factos sociais mentirosos, provocam constrangimentos no modo como olhamos aqueles que são fenotípica e culturalmente diferentes de nós.
O que aconteceu ontem à noite em Cascais, foi apenas mais um episódio dessa forma paranóica de lidar com uma realidade que nos escapa. No meio de 100.000 pessoas aglomeradas num espaço sem condições, dois ou três miúdos envolveram-se numa briga. O estado de alerta latente devido aos anunciados “meet” de jovens da periferia começou por incomodar o cantor Anselmo Ralph que interrompendo o concerto e chamando a polícia gerou o pânico e isso sim, causou a confusão. Tal e qual como no “arrastão de Carcavelos” em 2005, quando o proprietário de um bar de praia chamou a polícia porque “…viu uns pretos a correr”.
Se em Carcavelos o “perigo” era personificado numa vaga ululante de jovens negros que corriam pela praia a agredir e roubar os veraneantes, brancos, claro, agora o “diabo” vestia a mesma pele e pretendia quebrar a paz e a harmonia social cascalense. Afinal, segundo o Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Lisboa, que recolheu informação junto do posto em Cascais, "não há registo de agressões" e "não houve qualquer esfaqueamento", ao contrário do veiculado por alguns órgãos de comunicação social. O que houve, referiu a fonte, foram "várias ocorrências de doença súbita, uma situação de queda e uma pessoa que, empurrada contra uma grade, teve um princípio de esmagamento, na sequência da confusão gerada no local".
Na altura, em Carcavelos, os desmentidos da polícia e de um ou dois jornais pedindo desculpa por terem sido enganados ao darem conta da ocorrência, e confirmando que não houve assaltos nem agressões mas apenas a confusão gerada pela chegada em carga da polícia de intervenção, tiveram a divulgação obrigatória e envergonhada e, por isso, insuficiente para retirar o anátema de cima dos “diabos” de pele negra que, apesar de serem tão portugueses como nós, continuaram e continuam a ser vistos como estranhos e estigmatizados em conformidade.

Sabe-se que os estereótipos morais são manipulados pelos media ao serviço das classes e dos interesses dominantes, criando segregação, barreiras e mitos que têm por fim salvaguardar-nos da mistura com os outros. Felizmente, estamos condenados a viver juntos, misturados, para o bem e para o mal. Ainda bem.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Os algarves

Poder estar com quem gostamos é uma bênção da vida que, certamente, fizemos por merecer. Ainda assim, os dias bem passados são sempre curtos e sabem a pouco.
Ontem regressei de uns dias de férias no Algarve com a filha Joana, o genro Nuno e os netos Diogo e o Francisco. 
Este ano a água está mais fria que na Nazaré. Consta! E depois? Jogamos uma futebolada ou fazemos uma caminhada pela praia e a água fica apetecível. Ou então alugamos aquela coisa, “tipo moto4 mas em gaivota, com um escorrega…”, no dizer do Francisco e, durante 1 hora o mar é nosso e até parece quentinho. Nossos são também a piscina e os relvados adjacentes. Mais os amigos e família que nos visitam, ou visitamos noutros algarves.
É tudo nosso quando fazemos por ser.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O CASAMENTO

A vida tem-me levado a viajar por situações e cenários que guardo na memória como coisas boas. Que preservo no coração. Porque gosto de escrever, de vez em quando tento partilhá-las com os outros. É o caso.
No Sábado fui ao casamento da Liliana, prima da Sandra. Muitos convidados (255), muita família, gente simpática e rica na sua diversidade. A maioria emigrada em França mas também na Suíça, nos EUA e no Canadá, narrando as histórias de sucesso em discurso empolgado num linguajar português temperado a vernáculo e aqui e ali palavras cantadas desses países. Das agruras e dramas agarrados à condição de emigrante, apenas sussurros.   
A
pós a celebração religiosa na Sé de Leiria, porque o padre é amigo dos noivos, seguiram-se as festividades à volta da comida, bebida, música, barulho, animação, apostas, palitos, histórias, burro, promessas, tunas, rituais, muita cerveja, encontros, fogo-de-artifício, desencontros, baile, copo-de-água, leitão assado e mais festa pela noite dentro.
No Domingo, almoço em casa do tio Rui e da tia Lolita. Celebravam-se três aniversários, numa família cada vez mais rica. Pela mistura: o primo Hugo casou com a peruana Betty, o primo David casou com a chinesa Yummy e daí nasceram o Dário e a Yris, os novos ídolos, adorados pelo simples facto de serem os mais recentes membros da família.

Dito isto, sinto que as palavras são curtas para descrever estes dias. Vivê-los foi bem melhor.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Colômbia e Guiné-Bissau

A Colômbia era, até há poucos anos, um local a evitar. A maioria da população vivia refém da instabilidade e da guerra entre os para-militares e a guerrilha das FARC, no cenário de um narco-estado mergulhado até ao pescoço no tráfico de cocaína e na corrupção. A taxa diária elevadíssima de homicídios tornava o acto de andar na rua uma coisa para aventureiros. A partir de 2006 a situação começou a mudar. Constava que o controlo do Estado tinha sido assumido pelo governo eleito, que as instituições funcionavam e que o desenvolvimento económico ia com a passada certa. De tal modo que a TAP até abriu uma ligação para a sua capital, Bogotá.
Aproveitando uma boleia, fui ver.    
Bogotá tem 12 milhões de habitantes. Mas não se dá por eles. Isto é, anda-se à vontade! De dia ou de noite andei de táxi e no metro de superfície “Transmilenium” e nem por um instante senti aquela sensação de insegurança que conheço bem de outros lugares. Dos lugares, interessam-me sobretudo as pessoas. Claro que gosto de conhecer as marcas históricas e culturais identitárias de cada povo. Claro que apreciei e aprendi muito na visita ao Museu do Ouro. E que foi um prazer enorme ir ao Museu Botero. Tal como foi bom visitar o Centro Cultural GABO, e beber um excelente Mojito na sua esplanada. Mas a imagem que mais retenho de Bogotá é a das ruas cheias de gente, alegre, descontraída, liberta, pareceu-me. Não sei. Sei que os colombianos com quem me cruzei foram (todos…) muito simpáticos e disponíveis. Um exemplo: na 2ª noite, fomos jantar a um restaurante que uma amiga nos tinha recomendado; demos a morada ao taxista que nos levou até próximo do local, indicando-nos o caminho que deveríamos seguir a pé. Não o encontrámos! Andámos às voltas até que decidimos perguntar a um passante. Era simpático… mas não sabia. Perguntámos a outro. Também não sabia mas indicou-nos um vendedor ambulante ali perto: “Esse deve saber…” E sabia. Sabia e fez questão de abandonar as suas coisas e acompanhar-nos até ter a certeza que íamos dar com o restaurante. Gente boa! Foi isso que senti. Tal como na Guiné…
Cheguei ontem. Falando com a Marta acerca das pessoas, ela perguntou se os colombianos são assim como os guineenses. Acho que sim, respondi. Depois de falar com ela, alarguei o pensamento e imaginei a Guiné- Bissau a seguir um caminho semelhante ao da Colômbia. Ou seja, deixar de ser um narco-estado e passar a ser um Estado controlado pelos governantes eleitos, com as instituições a funcionar ao serviço dos cidadãos, com os militares cumprindo as ordens e

manadas do poder civil, com as pessoas vivendo as suas vidas, em casas com água e luz, com um serviço de saúde minimamente digno, com segurança, sem medo de andar nas ruas. Tal como os colombianos. Já não falta muito, desejo. E confio no Primeiro-Ministro, Domingos Simões Pereira.

O facto de a TAP retomar os voos para Bissau a partir de 26 de Outubro, é um bom indício.