sexta-feira, 18 de março de 2016

AS MAURÍCIAS


As Maurícias não são um paraíso mas, no mínimo, merece ser estudada a forma como o povo e os seus governantes usaram a independência para melhorar, de facto, o seu nível de vida. E deve ser visitada porque além de ser um bom sítio para passar férias é um caso de relativo sucesso social e político.
O povo é uma mistura antiga de originários da India, de África, da Europa, da China, de Madagascar e de outras proveniências adjacentes, de que resulta uma mestiçagem colorida e harmoniosa surpreendente, pelo menos para nós, habituados pela cultura e pela vida a ver no “outro”, diferente, estranho, uma ameaça de que nos devemos afastar o mais possível.
É claro que a coexistência em qualquer parte do mundo, mesmo pacífica, não é um mar de rosas. Partilhar território e vidas com alguém que tenha hábitos distintos dos nossos é uma tarefa difícil que raramente se consegue apagando ou iludindo diferenças. Melhor mesmo é tentar superá-las. Aqui nas Maurícias existem certamente tensões quotidianas mas, aparentemente, esta gente consegue lidar muito bem com elas, mantendo níveis de tolerância e coexistência invejáveis, segundo os padrões africanos e mesmo os ocidentais.
A independência das Maurícias ocorreu num contexto descolonizador decorrente da 2ª Guerra Mundial. Sem banhos de sangue ou processos revolucionários violentos, como aconteceu por exemplo na Índia e em Madagascar, para falar de realidades próximas. Houve eleições em 1967 e a votação foi favorável aos independentistas por 55,6% contra 44,4%. Desde então as lideranças políticas dos maiores grupos étnicos e religiosos têm lutado pelo poder e governado o país alternadamente, grosso modo
.

A independência dos países sujeitos ao colonialismo nem sempre foi sinónimo de ganhos de soberania, económicos e sociais para a maioria da população. Nas Maurícias a independência alcançada em 1967, não trouxe a satisfação de todas as necessidades dos mais carenciados mas constituiu, sem dúvida, um salto de gigante na melhoria das suas condições de vida.
A sensação de que existe aqui uma nação é confirmada nas conversas com os nossos interlocutores. É uma nação fustigada pela história, certamente, mas composta por um conjunto de pessoas fenotípica e religiosamente diferentes que perseguem objectivos comuns, apostados em viver juntos e a construir uma pátria de que se orgulhem os seus filhos.
A questão identitária parece estar resolvida. Os mauriciens sabem quem são, de onde vieram e qual o seu papel na sociedade. Nas relações informais as várias etnias comunicam entre si em “crioulo das Maurícias”, língua cujas raízes e vocábulos são de origem francesa na sua quase totalidade. O inglês é a língua oficial do governo mas o francês é, de longe, a língua mais usada e ouvida nos meios de comunicação social e na rua. Aparentemente a meritocracia funciona e o facto de não se sentirem marginalizados deve constitui uma espécie de “seguro” que os protege dos radicalismos, infelizmente comuns em grande parte do mundo.  
O crescimento económico tem sido notável e, mais importante, actualmente é um dos países com maior IDH (índice de desenvolvimento humano) em África; praticamente não têm desemprego e, apesar de o ordenado mínimo ser 200 euros por mês (pouco, para os nossos padrões), a paz social não parece em causa. Talvez porque a escola e a assistência médica/hospitalar sejam gratuitas; porque as crianças e os seniores maiores de 60 anos não paguem transportes. Talvez. O cuidado com os mais frágeis, crianças e idosos, é por demais evidente e foi reforçado pelo actual governo de esquerda, eleito em finais de 2014, que decidiu atribuir a todos os maiores de 60 anos uma subvenção equivalente ao ordenado mínimo.
Os turistas são tratados com simpatia mas pagam pela maioria dos bens comerciais, incluindo as refeições, um sumo ou qualquer outra coisa que se venda nos mercados de rua, bastante mais do que pagam os mauriciens. Medida que me parece justa, para além de revelar um enorme pragmatismo!

É claro que nem tudo é assim perfeito como pode transparecer do teor deste escrito. Por exemplo, o actual governo cuja divisa eleitoral era “Governar para o povo com o povo”, segundo um dos meus interlocutores já deixou cair essa promessa e passou a governar para os seus... Espero que seja apenas um tropeção e, já agora, que não retire o sorriso nem o ar de felicidade desta gente.       

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A FUTEBOLIZAÇÃO DA POLÍTICA


Deixei de ver, desde há muito, programas que falam de futebol. Gosto do jogo jogado, visto ao vivo ou na televisão, tanto quanto detesto a verborreia futeboleira vinda de comentadores, articulistas, treinadores e presidentes de clubes, todos eles com um estranho problema de visão, porque só conseguem “ver” o jogo com lentes clubistas que deixam ver apenas o que lhes interessa.
Com a política partidária está a acontecer a mesma coisa. Desde há um mês, evito ver debates, notícias e comentários sobre o actual momento porque a lógica da clubite instalou-se nos partidos e nos seus apaniguados nos meios de comunicação social. A informação é abafada pela contra-informação; os argumentos são contrariados pelas falácias; a manipulação impera e eu não tenho paciência para os aturar.

Não sendo isento, votei António Costa, tenho esperança que ele consiga governar o país bem melhor do que fizeram estes ladrões (de parte da minha reforma…) que o antecederam. Quanto a estes e aos seus apoiantes, se já esgotaram o stock de comprimidos para a azia, experimentem chá de espinheira santa, bolachas de água e sal e sumo de batata, em jejum. Dizem que faz bem.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

NOJO

Quando, em Fevereiro de 2013, o Estado pela mão do governo de Passos e Portas roubou-me mais de um quinto da pensão de reforma em nome da “austeridade necessária” reagi chamando-lhes os nomes que mereciam. Trabalhei por conta d´outrem durante 41 anos, cumpri a minha parte do contrato estabelecido e escrito pelo Estado e esse roubo provocou em mim uma ruptura irremediável com o poder político.  Escrevi então: “Hoje, quebrei o compromisso de cidadania institucional que mantive com o Estado durante toda uma vida. A partir de agora sinto-me livre de qualquer obrigação para com os dirigentes/malfeitores/vigaristas do meu país. Para além do óbvio direito que pretendo exercer de lhes chamar ladrões, bandidos, mafiosos e outras coisas que me ocorram na altura que os encontre, espero ter engenho para recorrer aos meios que ache adequados para os punir.”
Hoje, depois de saber que os juízes do tribunal constitucional foram coniventes com os ex-titulares de cargos públicos que depois de trabalharem apenas 12 anos têm direito a privilégios que os trabalhadores comuns deste país não têm, nem ao fim de 40 anos de trabalho, voltou-me o desejo de chamar bandidos e mafiosos aos deputados que solicitaram esse privilégio vergonhoso e iníquo e aos juízes do tribunal constitucional (também abrangidos) que votaram em causa própria.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016

Comecei bem o 2016. Também graças à RTP! Ontem, após o jantar/ceia em família e cumprido que foi o ritual dos beijos, abraços e desejos de um Ano Melhor, sentei-me frente à televisão e deparei na RTP 2 com o Amarcord de Fellini. Magnífico filme, visto e revisto com gosto. Hoje ao acordar, levei um banho de boa música e boa disposição do maestro Mariss Jansons que dirigiu a Filarmónica de Viena no tradicional concerto de Ano Novo transmitido pela RTP 1. Muito bom!