domingo, 19 de julho de 2015

A propósito da Grécia…


Falemos de Obama. Não da pressão que exerce sobre os actores políticos que dependem dele, nos governos ou no FMI. Também não sobre os discursos públicos onde expressa a sua opinião (de cuja bondade se pode sempre desconfiar…) acerca dos problemas causados pela eventual saída da Grécia da esfera do euro. Falemos antes de Obama e do seu papel no acordo alcançado há dias com o Irão. 

Como se sabe, na política os falcões são aqueles voluntariosos que resolvem os problemas à força, sem negociar com o inimigo… e com profundo desprezo pelas pombas, isto é, os políticos “fracos”, aqueles que negoceiam até com o diabo se tal for necessário para alcançar um acordo. Obama é, aos olhos dos falcões americanos, israelitas e outros uma pomba receosa.  Mas alcançou um acordo que pode ser um grande contributo para a resolução dos conflitos centrados no médio oriente e, por via da acção de muitos falcões ocidentais e dos muitos radicais islâmicos surgidos no rescaldo dessas ofensivas, disseminados um pouco por todo o mundo com os efeitos desastrosos que se tem visto.

Na Grécia também houve acordo. Chamem-lhe o que quiserem. Eu continuo sem perceber o suficiente para me permitir classificar de outra maneira o processo negocial entre os “bons” e os “maus” actores deste dramalhão, cheio de suspense, avanços e recuos inesperados, acusações, chantagens e outras cenas menos dignas. Parece-me, no entanto que, também aqui, ganharam as pombas: o “cobarde” Tsipras aguentou o barco enquanto o intrépido e “valente” Varoufakis abandonou-o.  O “fraco” Tsipras e os que com ele ficaram no governo, tiveram que engolir sapos e humilhações sem nome mas perante as circunstâncias e a ausência de melhor alternativa, aguentaram o barco.


Não sei o que vai acontecer no futuro. E, tal como escrevi a 28 de Junho: “O facto de suspeitar que nesta incerteza sou acompanhado pela maior parte das pessoas que no mundo ainda se preocupam com este tipo de coisas…”, não afasta de mim a ideia de que o mundo continua perigoso. Suspeito, porém, que os problemas serão resolvidos pelos “cobardes” pombas enquanto os “valentes” falcões vão continuar a botar discursos heroicos e empolgantes dos dois lados da barricada. Depois basam! Uns de mota e outros em cadeira de rodas…