O tema das praxes está inscrito em todas
as conversas, análises e debates que por estes dias se fazem em Portugal. E
isso acontece por via do choque causado pela tragédia do Meco. Mas antes já
existiam nas universidade as práticas abstrusas que atentavam contra a
dignidade e a sã convivência universitária e, de vez em quando, também causavam
vítimas.
Há dois anos atrás, na primeira
semana de aulas no ISCTE, um professor quis saber a nossa opinião sobre as
praxes e propôs, como primeiro trabalho, que a sintetizássemos numa página. Na semana
seguinte, na correcção do exercício o professor, sem identificar o autor,
começou a ler o meu texto onde, entre outras coisas, escrevi que a praxe era
uma idiotice abjecta e indigna de gente bem formada. Parou de ler e disse: “Ainda
que possa estar de acordo, isto não se pode escrever!”
Este ano, ao contrário do que estava
calendarizado, o início das aulas foi atrasado uma semana por causa das praxes.
Na altura, dia 19 de Setembro, mostrei surpresa, no meu blogue e no FB, pela
complacência da direcção da Escola e dei conta da perplexidade e indignação que
senti ao assistir ao espectáculo escabroso e de mau gosto primário que decorria
no pátio. E escrevi, “À imbecilidade dos comportamentos junta-se
a linguagem obscena (supostamente libertadora?!) na representação de rituais
que apenas impõem apatia e obediência cega aos superiores.”
As vozes que agora se erguem exigindo
culpados vestidos de bodes expiatórios que carreguem as culpas do que aconteceu
calaram-se e foram coniventes com a situação. As autoridades académicas e
governamentais, a imprensa, as famílias, pactuaram e foram deixando andar o folclore
mascarado de “tradição” universitária – coisa inventada como a maioria das
tradições – para dar patine académica a Escolas e Institutos com pouca
credibilidade. Porém, a partir do momento em que as Escolas passaram a ser
vistas e geridas como um negócio, os alunos adquiriram o estatuto de clientes e
como o cliente tem sempre razão… até as Escolas públicas e boas como o ISCTE
pactuam com esta indigente alunocracia.
A integração dos caloiros proclamada
como objectivo é uma treta. A estrutura praxista é composta por “veteranos” mais
escolantes que estudantes que, de um modo geral, são péssimos alunos com
“autoridade” e galardões adquiridos nos chumbos, no
atraso em finalizar o curso, inspirados na ideologia das claques de futebol, senhores
de uma imaginação perversa e sádica aplicada na dita integração baseada, claro,
na submissão e na obediência pateta aos superiores, por mais merdosos que sejam.
Uma
Escola não deve servir para isto.
Amanhã,
o ministro Crato vai reunir-se com reitores e alunos. Pela entrevista que o
reitor da “Lusófana” deu à SIC, temo o pior.