A questão da coadoção por casais do mesmo sexo baralha-nos. Aliás,
tudo o que diga respeito a matérias que fujam à héteronormatividade suscita dúvida,
por vezes perplexidade e noutras, recusa. A matriz judaico-cristã formatou-nos
assim a viver num modelo de família nuclear, policiando os costumes e comportamentos
diferentes dos nossos.
Mas uma coisa são as nossas visões particulares e sociológicas
acerca do assunto e outra, muito mais concreta, é a vida real das pessoas que
por motivos que só a eles dizem respeito, romperam as normas e tiveram a
coragem de constituir outros modelos familiares adequados às suas orientações e
desejos e que, naturalmente, incluem crianças. E não consta que essas crianças
sejam causa de tumultos nas escolas que frequentam, nos prédios e nas ruas onde
vivem com a família.
A política partidária tem lógicas tão obscenas e bizarras, e às
vezes tão sórdidas de fazer política que metem nojo. No Verão passado o
parlamento aprovou na generalidade o projecto de coadoção. Ora a coadoção apenas
legisla o direito dessa criança passar a ter o outro pai ou mãe com os direitos
e deveres reconhecidos na lei, iguais aos da outra figura parental que vive lá
em casa. Negar-lhes esses direito é uma afronta perpetrada por aqueles que têm
tanto horror aos homossexuais que baralham tudo de propósito e, fingindo-se
democratas, aprovam um referendo para tentar evitar o inevitável.
Independentemente das considerações de ordem social, política e
financeira que se colocam, a principal questão aqui é moral, tem a ver com os
direitos das crianças. Ouvir os argumentos que defendem esta manigância sem
nome por parte dos aprendizes de feiticeiro da JSD, é repugnante. Dá vómitos só
de ouvi-los falar! Por outro lado, é penoso ouvir as declarações de voto dos
políticos profissionais, daqueles deputados que recorreram a este instrumento
para limpar a consciência e deram-nos assim a prova provada da sua inutilidade enquanto
seres pensantes que putativamente nos representam. Se tivessem vergonha,
demitiam-se. Como não têm, representam apenas o que de pior e mais imoral existe
na política. Uns e outros só merecem o meu desprezo.
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