Ontem fui ao Planetário Calouste Gulbenkian, em Belém. Éramos
oito: eu, a Sandra e a Susana, os netos Diogo e Francisco, a enteada Clarinha, mais
o Alexandre e a Catarina, netos do Carlos e da Susana.
A sala estava quase cheia de crianças de escolas em visita
de estudo e outras acompanhadas pelos pais ou avós. A sessão infantil começava
às 14,30. Mas não começou. Durante mais quinze minutos foram entrando e
entrando até que, finalmente, as portas fecharam-se. Um rapaz, de pé, na cabine
de controlo, explicava em linguagem simples e apropriada o que iríamos ver nos
próximos cinquenta minutos. Foi também repetindo avisos ou pedindo à infantil
audiência para não conversarem enquanto decorria e exibição. Em vão. A cada imagem
que aparecia no céu estrelado do Planetário seguiam-se os comentários das
crianças e a reprimenda meio paternalista, meio portuguesa do rapaz do
microfone, “pronto, vá lá… não conversem, não façam barulho…”
Mas o mais português acontecimento surgiu quando, passados pouco
mais de dez minutos do início, o locutor interrompeu a narrativa de viagem dos
astros e informou a audiência, “temos que interromper a sessão porque vamos
deixar entrar uns meninos que se atrasaram…”
Acenderam-se as luzes, abriram-se as portas e lá entraram os
meninos e mais os pais ou avós deles para ocupar os lugares vagos. Extraordinário
foi o facto de não haver lugar para todos. Não há problema. Foram-se buscar
cadeiras ao armazém, colocaram-se nas coxias e, “vamos recomeçar …” Houve mais alguns
momentos de bulício entre a assistência seguidos pela voz cordata do rapaz, “pronto,
vá lá…não conversem…pronto, vá lá…”
Bom, o importante é que as crianças gostaram e só nós,
adultos e viajados, por nunca termos assistido a nada semelhante em situações
similares, algures, notámos e comentámos esta faceta do modo de ser e estar dos
lusos. Somos assim, complacentes, paternalistas, pouco rigorosos nos horários, facilitadores,
desenrascados e possuidores demais características que nos marcam, para o bem e
para o mal no relacionamento com os outros.
Pessoalmente, não renego nem me distancio desta atitude. A
frieza do rigor em demasia é chata e desconfortável. A rigidez das normas e a
inflexibilidade na sua aplicação pode ser o caminho mais correto no universo
dos burocratas mas não contribui para a felicidade de ninguém. Somos um povo
cheio de defeitos mas eu não gostaria de pertencer a outro.
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