quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A MINHA VISÃO DAS PRAXES


O tema das praxes está inscrito em todas as conversas, análises e debates que por estes dias se fazem em Portugal. E isso acontece por via do choque causado pela tragédia do Meco. Mas antes já existiam nas universidade as práticas abstrusas que atentavam contra a dignidade e a sã convivência universitária e, de vez em quando, também causavam vítimas.
Há dois anos atrás, na primeira semana de aulas no ISCTE, um professor quis saber a nossa opinião sobre as praxes e propôs, como primeiro trabalho, que a sintetizássemos numa página. Na semana seguinte, na correcção do exercício o professor, sem identificar o autor, começou a ler o meu texto onde, entre outras coisas, escrevi que a praxe era uma idiotice abjecta e indigna de gente bem formada. Parou de ler e disse: “Ainda que possa estar de acordo, isto não se pode escrever!”
Este ano, ao contrário do que estava calendarizado, o início das aulas foi atrasado uma semana por causa das praxes. Na altura, dia 19 de Setembro, mostrei surpresa, no meu blogue e no FB, pela complacência da direcção da Escola e dei conta da perplexidade e indignação que senti ao assistir ao espectáculo escabroso e de mau gosto primário que decorria no pátio. E escrevi, “À imbecilidade dos comportamentos junta-se a linguagem obscena (supostamente libertadora?!) na representação de rituais que apenas impõem apatia e obediência cega aos superiores.”  
As vozes que agora se erguem exigindo culpados vestidos de bodes expiatórios que carreguem as culpas do que aconteceu calaram-se e foram coniventes com a situação. As autoridades académicas e governamentais, a imprensa, as famílias, pactuaram e foram deixando andar o folclore mascarado de “tradição” universitária – coisa inventada como a maioria das tradições – para dar patine académica a Escolas e Institutos com pouca credibilidade. Porém, a partir do momento em que as Escolas passaram a ser vistas e geridas como um negócio, os alunos adquiriram o estatuto de clientes e como o cliente tem sempre razão… até as Escolas públicas e boas como o ISCTE pactuam com esta indigente alunocracia.
A integração dos caloiros proclamada como objectivo é uma treta. A estrutura praxista é composta por “veteranos” mais escolantes que estudantes que, de um modo geral, são péssimos alunos com “autoridade” e galardões adquiridos nos chumbos, no atraso em finalizar o curso, inspirados na ideologia das claques de futebol, senhores de uma imaginação perversa e sádica aplicada na dita integração baseada, claro, na submissão e na obediência pateta aos superiores, por mais merdosos que sejam.
Uma Escola não deve servir para isto.

Amanhã, o ministro Crato vai reunir-se com reitores e alunos. Pela entrevista que o reitor da “Lusófana” deu à SIC, temo o pior. 

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