Falemos de Obama. Não da pressão que exerce sobre os actores
políticos que dependem dele, nos governos ou no FMI. Também não sobre os
discursos públicos onde expressa a sua opinião (de cuja bondade se pode sempre
desconfiar…) acerca dos problemas causados pela eventual saída da Grécia da
esfera do euro. Falemos antes de Obama e do seu papel no acordo alcançado há
dias com o Irão.
Como se sabe, na política os falcões são aqueles
voluntariosos que resolvem os problemas à força, sem negociar com o inimigo… e
com profundo desprezo pelas pombas, isto é, os políticos “fracos”, aqueles que
negoceiam até com o diabo se tal for necessário para alcançar um acordo. Obama
é, aos olhos dos falcões americanos, israelitas e outros uma pomba receosa. Mas alcançou um acordo que pode ser um grande
contributo para a resolução dos conflitos centrados no médio oriente e, por via
da acção de muitos falcões ocidentais e dos muitos radicais islâmicos surgidos
no rescaldo dessas ofensivas, disseminados um pouco por todo o mundo com os efeitos
desastrosos que se tem visto.
Na Grécia também houve acordo. Chamem-lhe o que quiserem. Eu
continuo sem perceber o suficiente para me permitir classificar de outra
maneira o processo negocial entre os “bons” e os “maus” actores deste dramalhão,
cheio de suspense, avanços e recuos inesperados, acusações, chantagens e outras
cenas menos dignas. Parece-me, no entanto que, também aqui, ganharam as pombas:
o “cobarde” Tsipras aguentou o barco enquanto o intrépido e “valente”
Varoufakis abandonou-o. O “fraco” Tsipras
e os que com ele ficaram no governo, tiveram que engolir sapos e humilhações
sem nome mas perante as circunstâncias e a ausência de melhor alternativa,
aguentaram o barco.
Não sei o que vai acontecer no futuro. E, tal como escrevi a
28 de Junho: “O facto de suspeitar que nesta incerteza sou acompanhado pela
maior parte das pessoas que no mundo ainda se preocupam com este tipo de coisas…”,
não afasta de mim a ideia de que o mundo continua perigoso. Suspeito, porém,
que os problemas serão resolvidos pelos “cobardes” pombas enquanto os “valentes”
falcões vão continuar a botar discursos heroicos e empolgantes dos dois lados
da barricada. Depois basam! Uns de mota e outros em cadeira de rodas…